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O Rio de Janeiro está prestes a abrigar a sede brasileira do Centro Internacional de Astrofisica Relativística (Icra), uma respeitável entidade de pesquisa que estuda um dos mais intrigantes mistérios da astrofisica de altas energias. 0 quebra-cabeças, que divide os cientistas há mais de 30 anos, já entusiasmou o Governo do Estado, através da FAPERJ, e a Prefeitua, que assinaram acordos de cooperação para viabilizar a lmciativa.

Remo Ruffini, presidente do Icra, com sede na cidade italiana de Pescara e representações em cinco países, esteve no Brasil entre os dias 4 e 6 de abril. Ruffini veio ao Rio para costurar uma aliança estratégica entre os governos federal, estadual e municipal e o Laboratório de Cosmologia e Física de Altas Energias do CBPF, ditigido pelo físico Mario Novello, uma das maiores autoridades brasileiras em Cosmologia, o estudo das origens do universo.

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Remo Ruffini (á esquerda) na sede do CBPF com o fisico Mario Novello
 

Foi a reputação de Mario Novello e a excelência do grupo de pesquisadores que administra no Rio de Janeiro que estimularam Ruffini a propor a construção de uma sede do Icra na cidade, a exemplo, do que já acontece em Roma, Pescara, Nice, Paris, Moscou, Vietnã, Stanford, Washington e Quioto.

Para viabilizar o instituto, criado há trés anos, Ruffini planejou uma estratégia que renova a cooperação internacional e é francamente inspirada no modelo do CERN, o laboratório europeu de fisica de partículas, adaptada aos tempos das comunicaçães velozes via Internet. "Ruffini montou um cenário em que os acordos não são feitos país a país, bilateralmente. Haveria um pequeno número de Icras altamente qualificados no mundo inteiro, contando com quatro a oito pesqisadores. O centro promoveria a troca de informações para reciclagem ou formação de cientistas de alto nivel em Cosmologia, Gravitação e Astrofísica Relativística", explica Novello.

Mas é a engenharia financeira do projeto o seu aspecto mais inovador. "O governo brasileiro tem um dinheiro depositado na Unesco. Parte deste montante viria através da Unesco para o Icra. A instituição iria gastar no Brasil o dinheiro que o país manda para este órgão da ONU. Não sai um dólar daqui. Todo o real recebido seria gasto aqui ou para mandar cientistas brasileiros para estudar no exterior. Ao chegar a seu destino, o Icra local se encarregaria das despesas e do salario do pesquisador". Explica Novello.

Com os acordos de cooperação firmados pelo Icra com a FAPERJ e a Prefeitura do Rio de Janeiro, falta apenas o apoio do governo federal . "Para que tudo çê certo é necessario firmar un acordo de cooperação entre Brasil e Unesco", informa Novello que, em sua cruzada, já conta com o entusiastico apoio do Secretário Executivo do MCT, Carlos Alberto Pacheco, e do Sceretário de Coordenação de Unidades de Pesquisa, João Evangelista Steiner. Espera-se que o Icra tenha uma sede no Rio de Janciro em 2003.

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A Conferência do fisico italiano attraiu cientistas, jornalistas e autoridades

Descobertas podem revolucionar a Astrofísica

Ruffni adiantou para jornalistas e apresentou aos colegas do CBPF alguns poucos detalhes de uma pesquisa que "promete revolucionar a Astrofisica" e que, em breve, será esmiuçãda em publicações científicas indexadas. Ruffini foi co-autor do primeiro estudo publicado sobre "buracos negros", em 1971, e está fortemente envolvidò com a pesquisa dos misteriosos pulsos abruptos de raios-gama no cosmos. Seu grupo no Icra está acompanhando em tempo real a aproximação de uma estre la rúrùci a um buraco negro a sua posterior desaparição total. 

Em média, três vezes ao dia, pulsos abruptos de raios-gama são emitidos no cosmos con mais energia do que aquela emida pelo sol em seus 10 bilhões de anos. A escassez de dados observacionais deste fugidio fenomeno cósmico motivou a crição de uma infinidade de modelos teórcos para explicá-lo, que agora sáo radicalmente revisados por Ruffini e suas descobertas.

Os pulsos abruptos de raios-gama já são conhecidos dos cientistas desde 1973, quando foram relatadas as observações feitas pelos satélites militares americanos "Vela" que monitoravam eventuais explosões nucleares soviéticas entre 1969 e 1971. 

Em 28 de fevereiro de 1997, o satélite ítalo-holandês BeppoSAX registrou por 80 segundos um pulso abrupto de raios-gama, após uma empreitada acidentada que planejava lançar o artefato espacial em 1985, mas só conseguiu, a proeza em 1996, devido a toda espécie de dificuldades. 

Especialistas afirmam que estas Emissões de raios-gama não afetam a saúde de seres humanos. Isto porque e extremamente raro que um evento que ocorre fora de nosso sistema solar apresente qualquer efeito computável sobre a Terra. "A princípio, os raios-gama não podem ultrapassar a atmosfera vindos do espaço exterior", garante Herman Mosquera, pesquisador visitante do CBPF e especialista em Astrofísica ,Relativística. Mas a se prosseguir a emissão indiscriminada de gases afetam a camada de ozõnio da atmosfera, o cenário pode mudar. No entanto, outras camadas da atmosfera atuariam como proteção adicional neste caso. 

Remo Ruffini foi o Presidente do Comitê Científico da Agência Espacial Italiana na ocasião. Hoje pode contar como um dos maiores fiascos espaciais potenciais europeus se converteu no meio para o que reputa ser a mais revolucionária descoberta científica da Astrofísica: a origem da evolução dos pulsos abruptos de raios-gama.

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O fisico Remo Ruffini apresentou em sua palestra detalhes de uma pesquisa que promete

Entrevista: Remo Ruffini

De onde vêm os pulsos abruptos de raios-gama? 

Nos modelos usuais, os cieintistas fazem uma série de suposições sobre sua origem. Eu colecionei 135 suposições distintas. Grande parte destes modelos não "bate" com os dados observacionais obtidos por satélite.

Especialmente com as exigências de energia constatadas a partir das observações do satélite BeppoSAX. Em nosso modelo, nào temos este problema energético, e consideramos a energia emitida durante a formação de um "buraco negro". Além disso, pela primeira vez, estamos testemunhando e acompanhando a criação de um "buraco negro" ao longo do tempo.

Como os pulsos abruptos de raios-gama são produzidos, em sua teoria?  

Isto acontece em duas etapas. Depois que o "buraco negro" entra em colapso, ele gera matéria e antimatéria ao redor de sua superfície. Estas se aniquilam mutuamente, dando origem aos raios-gama.

Como os raios-gama podem gerar energias tão colossais? 

A beleza de nosso modelo teórico reside no fato de ele explicar naturalrmente a origem desta energia. Isto porque, na fórmula da massa dos "buracos negros", desenvolvida em 1971, está, implícito que até 50% da energia de un "buraco negro" pode ser dele extraída. È a sua energia eletromagnética e gravitacional que é extraída e convertida em pares de matéria e antimatéria, que se aniquilam e formam os pulsos abruptos de raios-gama.

Que lições os incidentes com o BeppoSAX lhe ensinaram no aspecto humanidade? 

Não gostaria de parecr nístico, mas acredito que existe uma força muito intensa na natureza que usa até os erros dos seres humanos para convertê-los em histórias bem-sucedidas. Isso para mim é realmente misterioso. Existe algo de método nestas tolices. Há mais coisas no mundo do, que podemos imaginar em nossa experiência cotidiana.